“Voz Activa”…

Gostava de ter sempre presente a magia do nascer e do pôr do sol… e com ela pintar de cores diferentes os meus dias…

 

…ontem, vermelho ao nascer,  ardia… cor espelhada no fumo  exalado do fogo que lavrava hectares e hectares de terra…

Ardiam as cercanias de Leiria e outras mil terras deste país que se acinzenta… ardiam o sol e  a terra… e ardia a  nossa preocupação.

 

Avolumava-se  em  cada um de nós a tristeza  face à expectativa com que olhávamos o céu denso e mais a chuva de fuligem que caía incessante, a acinzentar tudo o que cobria.

 

Hoje, ao amanhecer, num regresso esperançoso de céu azul,  surgiu-me de novo brilhante…  esse  mesmo sol feito outro,  carregado da força com que me cega ao nascer. E, completado mais um ciclo desta  infinitude aparentemente finita dos dias, na morte aparente com que nos contempla a cada dia, sempre mágico, reacendeu  em mim esse toque do inesgotável espanto que me desassossega  a cada dia…

… despediu-se assim,  o sol… num rubor vivo, intenso.

Cor e calor, linguagens  expressivas,  arrebataram-me os sentidos. Deram-me  e tolheram-me o fôlego desta indecisão indefinida… e ouvi uma espécie de cantar exalado na  expressão da própria vida!…

 

Sinto o Verão esvair-se, ainda quente. Mantém-se a minha divisão de escrever ou não escrever neste espaço, depois de prolongada ausência. Terminado o mestrado parecia-me natural regressar… mas tudo parece ainda um esforço, uma dicotomia de querer e não querer…  excepto o olhar que se perde nesta conquista que a cada dia a natureza faz em mim,  como um apelo de vida… e recordo o poema “Voz Activa” de Miguel Torga e que me acorda e agita para a vontade que sobrevém de cantar. Cantar de qualquer forma, mesmo em prosa!!!…

 

“Canta, poeta, canta!

Violenta o silêncio conformado.

Cega com outra luz a luz do dia.

Desassossega o mundo sossegado.

Ensina a cada alma a sua rebeldia.”

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